A influencer Jade Picon pode ter achado prática a escolha de colocar na mala do “BBB” apenas calcinhas descartáveis, mas a iniciativa —nada sustentável— vem recebendo críticas.
Para a diretora educacional do Instituto Fashion Brazil, Eloisa Artuso, a ideia não deve ser copiada. “O mundo inteiro está tentando combater os prejuízos e malefícios ambientais do que é descartado depois de um único uso”, diz Eloisa.
A grande questão é por que as pessoas ainda procuram esse tipo de produto. A cadeia de produção é absurda, as peças não trazem nenhum apelo emocional ou estético e ainda geram uma quantidade de lixo absurda. Pra que condenar o uso do canudo quando uma calcinha descartável causa tanto impacto quanto? Esse tipo de coisa deveria ser banida imediatamente.
As calcinhas descartáveis costumam ser usadas em clínicas de estética e spas, além de fins médicos, em clínicas de exames e hospitais, quando necessário. São, normalmente, para uma ocasião específica ou uma emergência, não para uso diário.
“As pessoas querem conforto e praticidade ao máximo, mas, neste caso, a decisão de utilizar a calcinha descartável não veio de uma urgência. Foi uma escolha planejada”, afirma Eloisa.
Leitoras de Universa também se manifestaram nas redes sociais contra o uso da calcinha descartável:
“Só consigo imaginar a quantidade de lixo produzido desnecessariamente”
“Rindo de nervoso pensando no tanto de energia, água e trabalho humano sendo jogado fora depois de UM ÚNICO USO!”
“Zero sustentável, zero consciente, zero tudo. Custa ser normal, usar e lavar a roupa?”.
Plástico na água que bebemos
O professor Pedro Jacob, do Instituto de Química da USP (Universidade de São Paulo), explica que o descarte incorreto das calcinhas descartáveis tem como consequência a geração de partículas de microplástico. “Essas partículas nunca desaparecem e se misturam à água que nós bebemos, ao ar que respiramos.”
Outra preocupação é com o baixo retorno econômico que a reciclagem desses itens traz —o que faz com quem muitas vezes eles acabem sendo desprezados em vez de reutilizados. “Esses compostos podem levar de 20 a 30 anos para se degradarem se receberem condições ideais de descarte, mas isso não acontece, porque outros materiais recicláveis são mais rentáveis.”
E os modelos de algodão? Eloisa Artuso aponta que, embora as peças escolhidas por Jade sejam de fibra natural, o impacto ao ambiente não é menor. “Ainda há o impacto da cadeia de produção, com uso de água, pesticidas e sementes transgênicas. Há prejuízo da origem até o descarte.”
E a saúde íntima?
O uso dessas peças descartáveis também pode prejudicar a saúde de quem faz essa opção. Para a ginecologista Erika Kawano, a utilização prolongada das calcinhas descartáveis pode ser um risco para o equilíbrio da flora vaginal. “O ideal é o uso pontual e, mesmo assim, sem períodos extensos. Um uso indiscriminado pode alterar o PH da vagina e, com isso, há a possibilidade de infecções diversas”, pontua.
Apesar de ser uma melhor alternativa se comparada aos modelos de tecido sintético, a ginecologista afirma que os descartáveis de algodão podem não ser tão anatômicos e ter uma trama de tecido mais fechada, o que pode ocasionar um abafamento da região íntima. “É preciso ficar atenta a qualquer alteração na saúde íntima de quem usa, já que as calcinhas não foram pensadas para uso constante. O formato da peça e como ela veste no corpo de cada pessoa faz diferença nessa questão.”
Para Eloisa Artuso, qualquer escolha —de moda ou na vida cotidiana—, seja ela de poucos reais ou de milhões, deve levar em conta o impacto que isso gera além da compra.
A gente ainda fica com a ideia errônea de jogar fora. Se está no lixo, não é mais preocupação nossa. Jogar fora para onde? Isso fica no planeta. Não existe esse conceito de fora.